Uma definição

"O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho." (Orson Welles)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Para um Soldado Perdido

"Adulto, Jeroen relembra suas primeiras aventuras amorosas. Durante o inverno de 1944 quando tinha apenas 12 anos, foi enviado a um vilarejo distante dos tormentos de Amsterdã. O menino teve que se adaptar a nova familia e ao despertar de sua sexualidade. A amizade profunda com Walt, um dos soldados canadenses vindos para liberar o vilarejo, possibilitou que o menino desabrochasse e vivenciasse suas primeiras experiências amorosas, apesar das diferenças de idade e de língua."

domingo, 9 de novembro de 2014

Os Contos de Canterbury

Os Contos de Canterbury

"O segundo filme da Trilogia da Vida do renomado cineasta Pier Paolo Pasolini baseia-se nos Contos de Canterbury do escritor medieval Geoffrey Chaucer.
Com fé exaltada, um grupo de peregrinos viaja rumo à Catedral de Canterbury. Durante intermináveis caminhadas que duram dias, e longas noites sem sono, os viajantes procuram tornar a peregrinação mais leve e prazerosa ao relatar contos libidinosos e apimentados.
As histórias dos peregrinos são relatadas no estilo inimitável de Pasolini, que faz dos Contos de Canterbury um prazer proibido que você não pode perder!"

O Leque de Lady Windermere

O Leque de Lady Windermere (Estados Unidos, 1949)

"Ao ver, num leilão, um antigo leque que lhe pertencera, uma senhora evoca os episódios que protagonizara. Sua tentativa de se reaproximar da filha, Lady Windermere, provoca uma série de quiproquós familiares e sociais. A peça que o dramaturgo, escritor e ensaísta britânico Oscar Wilde estreou com êxito em 1892 expõe, com fina ironia, as hipocrisias da sociedade vitoriana e mantém-se atual ao mostrar como a necessidade de manter as aparências impõe um jogo movido a enganos. Esta versão do texto foi filmada em 1948 em Hollywood por Otto Preminger, cineasta de origem europeia cuja grande experiência nos palcos o habilitou a representar cenas da vida como se fossem puro teatro."


O Mercador de Almas

O Mercador de Almas (Estados Unidos, 1958)

"Paul Newman faz parte da geração de atores que mudou o modo de interpretar nos anos 1950. Seus fascinantes olhos azuis sempre o colocaram no lugar de galã, mas ele queria ser mais que bonito. Em O Mercador de Almas, dirigido por Martin Ritt, ele interpreta um forasteiro que chega para desorganizar a ordem de uma família com seu magnetismo sexual. Com esses tipos amorais e desajustados, Newman demonstrou, mais uma vez, que não se deve confiar nas aparências."

domingo, 13 de julho de 2014

Salò, ou os 120 Dias de Sodoma

Antes de comentar Salò, ou os 120 Dias de Sodoma, penso que vale a pena dedicar algumas linhas ao seu diretor, o italiano Pier Paolo Pasolini. Partindo de uma cronologia descendente, Salò foi o último filme do renomado diretor italiano que ficou conhecido por sua filmografia crítica, engajada e revestida de posições contrárias aos valores da sociedade vigente. Na lista de filmes que trazem sua assinatura, a sexualidade, em suas várias facetas, será usada como metáfora para falar da moralidade, das relações de poder, política e valores religiosos e sociais. Considerado, por alguns, como pevertido, polêmico, devastador dos costumes morais e devasso, Pasolini era, sobretudo, um observador atento e crítico das mudanças ocorridas durante os primeiros anos do séc. XX. Vivendo sob o peso de uma sociedade que discrimina todo tipo de minoria e diferenças em todos os âmbitos da vida social, Pasolini tem no cinema uma ferramenta capaz de transformar sua visão de mundo em imagem e som. Infelizmente, o diretor italiano não pode ver a estreia de Salò, uma vez que foi encontrado morto numa praia. Ainda hoje sua morte está envolta em mistério, mas há quem afirme que foi assassinado por um garoto de programa que passou várias vezes sobre seu corpo vulnerável com um carro.
É no contexto dos regimes totalitários que grassam na Europa do séc. XX que Pasolini produz essa obra considerada a mais polêmica da história pelo Time Out e um dos 100 filmes essenciais para você assistir antes de morrer pelo Festival de Cinema de Toronto.
O filme foi lançado em 1975 e conta a história de cinco libertinos que resolvem sequestrar 16 jovens (8 rapazes e 8 moças) e confiná-los num castelo onde serão submetidos a toda sorte de sodomia enquanto escutam narrativas contadas por mulheres acerca das suas experiências sexuais. A película é baseada no livro Os 120 dias de Sodoma ou a Escola da Libertinagem do Marquês de Sade, escritor francês. Além dos 16 jovens, foram levados ao castelo 8 garanhões, 4 narradoras, 4 putas, 4 criadas, 6 cozinheiras e suas 4 filhas.
No château Silling, as histórias são narradas a fim de fazer aflorar os mais diversos instintos sexuais e seguidas de práticas e performances que desafiam o equilíbrio emocional, espiritual e moral daqueles jovens que são obrigados à práticas de perversão que chegam a comprometer a sanidade mental de pessoas que mal haviam iniciado uma vida sexual. A justificativa dessas práticas sai da boca do Magistrado quando diz que "Não há nada tão glorificante como o mal." O mal pelo mal, o mal por prazer, o mal por puro hedonismo, o mal como forma de impor e controlar. Assim, a partir de experiências particulares ou coletivas, Pasolini intenta a universalização de toda aquela simbologia que desfila na película e que traduz o poder e seu uso desprovido de qualquer ética.
A sequência de atos violentos e sádicos é parametrizada por normas que os jovens devem obedecer cegamente sob pena de serem castigados. Caso haja alguma infração, seus nomes são incluídos num caderno e punidos. As punições são as mais horrendas já vistas na história do cinema: olhos arrancados à faca, testículos e pênis cortados, queimaduras, língua cortada. Diante disso, o espectador, além das náuseas, pergunta-se: "É justo?" O Duque, um dos libertinos, responde: "Se fosse justo não nos deixaria de pau duro." É isso mesmo que Pasolini deseja colocar em xeque: a justiça e bondade humanas. Isso não significa que não acredite que o ser humano seja capaz de ser bom e justo, mas que essas virtudes estão sempre ameaçadas pelo poder que desvirtua o humano quando não sabemos lidar com ele. Sobre isso, um outro libertino afirma: "Tudo é bom em excesso." O poder, esse estranho objeto de desejo, quando usado sem discernimento e ponderação pode desembocar no excesso e se tornar prejudicial.
O filme termina quando um dos jovens põe uma música e pergunta se o outro sabe dançar. Em meio às barbaridades que se desenrolam durante o Ciclo do Sangue (vale salientar que o filme é dividido em Ciclo das Manias, Ciclo da Merda e Ciclo do Sangue tal como encontramos no livro de Sade), eles dançam. Isso permite entender que sempre há uma brecha pela qual o ser humano pode escapar às opressões fascistas e totalitárias e se singularizar como humano, embora o Sistema diga outra coisa: “Sua criaturas fracas! Ralé, destinada ao nosso prazer. Não esperem aqui a liberdade garantida lá fora. Vocês aqui estão além de qualquer lei. Ninguém sabe que estão aqui. Pelo que importa ao mundo, já estão mortos.”  ou “Nós, fascistas, somos os únicos verdadeiros anarquistas” (O Duque).



sexta-feira, 2 de maio de 2014

Ninfomaníaca 1 e 2: prazer e vício

Lars Von Trier apresenta um filme que divaga pela psiquiatria, filosofia, religiosidade, mitologia, astrologia etc. Ninfomaníaca não é um filme sobre uma suposta doença ou vício, mas uma profunda reflexão sobre a tentativa de entender por meio de vários canais de conhecimento uma determinada condição de vivenciar o sexo ou um comportamento específico na relação com o corpo e o desejo. O filme começa quando Seligman encontra Joe caída numa rua. Ela sangra e seu sangue mistura-se à solidão que a cerca naquela rua que acabara de presenciar a violência contra uma mulher que decidiu viver seu desejo, embora desmedido, descontrolado e construído no discurso das ciências como doença.
Seligman, um homem de idade avançada, leva-a para casa e em seguida dá-se início a narração que vai da descoberta do desejo quando criança, experiências sexuais na adolescência com diferentes parceiros e as muitas aventuras sexuais com um homem no Ninfomaníaca 1 e grupos no Ninfomaníaca 2. À medida que escuta suas histórias, Seligman traduz aquele desejo e aquelas experiências a partir de símbolos sagrados, figuras oriundas de diversos campos do saber e, assim, vai desconstruindo aos poucos a autoavaliação que Joe faz de si mesma quando afirma ser uma pessoa má.
Em Ninfomaníaca 2, os relatos encaminham-se em direções que pendulam entre o esforço em ter uma família, cuidar de um filho e o desejo de fazer sexo que a tortura a cada segundo do dia. Apesar da insaciedade sexual, Joe foi capaz de amar um dos parceiros que aparece na sua longa lista de homens devorados por seu desejo insaciável.
O maior sofrimento de Joe não é a vivência desse desejo, mas a sua ausência. A partir daí, Joe submete-se a várias sessões de um tratamento agressivo e doloroso a fim de recuperar o prazer sexual, ou seja, o orgasmo. A história continua e Joe escolhe a realização de um desejo ao filho e marido. Daí em diante, envolve-se num trabalho que a conduz ao encontro da própria desgraça: a rua, um corpo caído e o sangue viciado de uma ninfomaníaca.

sábado, 29 de março de 2014

Partidas e Chegadas




CHEGADAS E PARTIDAS


Chegadas e partidas é um filme para poucos e, ao mesmo tempo, um filme de todos nós, porque toca - de maneira sutil ou agressiva – a vida humana em suas tantas peculiaridades e facetas.
Quando digo que é um filme para poucos não quero com isso restringir o público e afirmar que apenas alguns poucos privilegiados podem assisti-lo. Não é isso! A intenção nem poderia ser essa, uma vez que os fatos que compõem o enredo ou roteiro tratam de situações que todos, sem exceção, já vivenciaram ao menos uma vez na vida em proporções diferentes. Não obstante tratar de situações cotidianas com a quais nos identificamos, é preciso ter um olhar que não recaia apenas na superfície dos fatos retratados, na seqüência das ações, na fotografia que deslumbra uma após outra ou nas contradições, por vezes engraçadas, que fazem a vida de Quoyle (Kevin Spacey). A beleza do filme não reside apenas aí, de modo que é preciso assisti-lo como se vasculhássemos nas entrelinhas ou entrecenas os sentidos que não se entregam de imediato, aqueles que não se dão aos olhares entretidos, curiosos, desatentos.
Quoyle é um homem que recebeu uma educação rígida que minou sua auto-estima. Descrente de si mesmo e das próprias potencialidades é lançado num mundo que categoriza, seleciona e exclui aqueles que não correspondem às exigências que se impõem; ou seja, um mundo “onde os fracos não têm vez.” É constantemente posto à prova por esse mundo e suas parcas capacidades são esmagadas pela hostilidade desse arranjo social que já o esperava antes que nascesse.
Numa situação inusitada, Quoyle conhece aquela que será sua esposa (Cate Blanchett) e que não tem com ele uma relação de respeito e fidelidade. Ela morre num acidente de carro quando tenta seqüestrar a própria filha para vender para traficantes de órgãos humanos. Agora, Quoyle não é responsável apenas por sua vida, mas também pela filha que escapou à tentativa de seqüestro e voltou para casa.
Entre os cuidados com a filha, a casa e as diligências do trabalho, Quoyle recebe a visita de uma tia (Jude Dench) que resolve levá-lo à terra dos seus antepassados. Lá, a partir do encontro com a história dos seus antepassados, da convivência com as pessoas da comunidade de Newfoundland, do novo relacionamento com a misteriosa Wavey (Julianne Moore) e do emprego que possibilita acordar potenciais adormecidos, a vida de Quoyle muda para sempre.
Disso, temos que não foi evitando a vida que Quoyle conseguiu sarar as cicatrizes da infância deixadas por um educação que o desqualificava; antes, foi no encontro consigo a partir do encontro com o outro e com a própria história que foi possível superar seu maior medo: ele mesmo.
Nessa obra, de grande beleza humana e cinematográfica, o diretor Lasse Hallström supera-se mais uma vez.

Infâmia





Infâmia (1961), de William Wyler, é uma obra ímpar na história do cinema norte-americano. Baseado na peça teatral de Lillian Hellman, Infâmia conta a história de duas professoras (Shirley McLaine e Audrey Hepburn) que mantêm uma escola feminina em regime interno. Acusadas por uma das alunas de manterem um relacionamento homossexual, as professoras perderão a paz e a escola que fechará por falta de alunos. O filme ainda conta com excelentes atuações do ator James Garner.

A Cor Púrpura




A COR PÚRPURA


Não é de agora que conheço o filme A cor púrpura. Já tinha lido alguma coisa na internet e, desde que obtive a primeira informação, me pus a procurar, embora não tenha tido êxito na busca. Só recentemente tive a grata oportunidade de assisti-lo e o fiz como um menino que ganha uma roupa nova e logo quer vestir ou uma caixa de bombons e a devora com ansiedade. Foi com uma disposição semelhante que digeri cada cena desse filme.
Custa-me tanto encontrar as palavras exatas, precisas e que deem toda a dimensão da grandiosidade dessa obra que, por vezes, hesito, receio, deleto, reescrevo, temeroso de que as palavras escolhidas não alcancem suas extensões que são incomensuráveis. Mas, começo a lembrar de Celie e sua trajetória marcada por recomeços sutis e, prontamente, me ponho a escrever com o mesmo destemor que a cerca quando das cenas finais.
A obra, do diretor Steven Spielberg, narra a história de Celie (Whoopi Goldberg) e Nettie (Akosua Busia), duas irmãs que conhecem desde cedo os horrores de uma criação feita de medo e dor. O pai mantém relações sexuais com Celie com quem tem três filhos tinha lido alguma coisa na internet e, desde que obtive a primeira informaç. Desses três, mata um e doa o casal Olívia (Lelo Masamba) e Adam (Peto Kisanka) a membros da igreja que participa. Celie não conhece os filhos nem os vê crescer.
Certo dia, aparece na fazenda, Alberto (Danny Glover), que manifesta interesse em casar com Nettie. O pai não permite que Nettie, por quem tinha desejo, siga com Alberto e entrega Celie que o acompanha e contrai matrimônio. Daí em diante, Celie é submetida a todo tipo de humilhação pelo marido que a mantém como uma escrava dele e dos filhos.
Após um um tempo, Nettie foge da casa do pai, porque não aguenta sua insistente perseguição e procura Celie, com quem passa a morar. Após uma tentativa frustrada de Alberto em estuprar Nettie, que o recusa veementemente, aquele a expulsa de suas terras e a menina sai a perambular pelo mundo. Antes de serem violentamente separadas, Nettie promete escrever e diz que só não o fará se morrer. Daí em diante, a vida de Celie se transforma numa eterna espera pelas cartas de Nettie que não veem.
Com a chegada de Shug (Maragaret Avery), a vida de Celie ganha rumo totalmente diferente daquele desenvolvido até então. Finalmente, alguém a vê e a ama como nunca foi amada. Esse reconhecimento do seu corpo, da sua existência e atributos faz Celie reunir forças para romper definitivamente com um passado de opressão e sofrimento.
No fim da trama, Celie e Shug descobrem as cartas que Nettie enviava e Alberto escondia. Nessas cartas, Nettie dá notícias de si e dos filhos de Celie que encontram-se na África. Após conseguirem o visto de emigração do consulado, os filhos de Celie, finalmente, puderam conhecer aquela de quem foram separados no nascimento. O reencontro com Nettie simboliza o reencontro com uma nova vida feita de respeito e dignidade.
Esse resumo dá uma idéia, em linhas gerais, do filme, mas seu conteúdo e as ações que o compõem vão além do que aqui está posto. Há histórias paralelas à história de Celie e que dão ao filme uma unidade dramática porque todas estão perpassadas pelo mesmo fio da intolerância e superação.
O filme é tão rico em temas para reflexão que fica difícil selecionar um para comentar. Não obstante a dificuldade em pinçar um tema que se sobressai aos demais, queria pontuar a passagem de uma existência inicialmente marcada pela mudez social, pela submissão resignada ao macho viril e por uma solidão que a acompanha desde que teve seus filhos arracados dos seus braços e foi interditada na comunicação com a irmã por quem tinha laços profundos de amizade para uma existência que tem a coragem, num momento singular da vida, de olhar para seu algoz e gritar: “Eu sou negra, sou pobre e posso até ser feia, mas, Deus, eu estou aqui. Eu estou viva.” Essa é toda liberdade.

terça-feira, 18 de março de 2014

O Silêncio: um filme de Ingmar Bergman

O Silêncio, dirigido pelo diretor suíço Ingmar Bergman, faz parte da Trilogia do Silêncio que se completa com Através do Espelho e Inverno. O mestre suíço é conhecido por sua abordagem psicológica das personagens e por tocar em questões existenciais e metafísicas. Em O Silêncio não é diferente.
Rodado em 1963, o filme conta a história de duas irmãs - Esther e Ana - que, aparentemente, mantêm uma relação incestuosa. Esther é tradutora e bebe constantemente para superar as dores insuportáveis de uma doença crônica que a devora por dentro, bem como superar o ciúme e a dificuldade de relacionamento com a irmã que frequenta cabarés em busca de experiências sexuais que lhe dão a impressão de soberania em relação ao sexo oposto. Entre essa relação tensa, encontra-se o filho de Anna que estabelece com a mãe uma relação de inteira dependência e, no gesto representado na imagem acima, enquanto esfrega as costas da mãe, o pequeno parece desejá-la. Ao inclinar a cabeça sobre as costas da mãe, mantendo os olhos fechados e o semblante que projeta um desejo pueril, Bergman aponta para uma relação que busca uma intimidade que é supostamente realizada quando pede, completamente nua, à criança que tire a bermuda e se deite ao seu lado. O filme foi realizado na década de 60, época em que um turbilhão de revoltas - sobretudo na França - sacolejavam o mundo. Bergman traduz as aspirações, desejos e sonhos de uma geração num filme que rompe o silêncio e impõe uma palavra transgressora num contexto de reviravoltas políticas, econômicas e culturais. Segue o link:
https://www.youtube.com/watch?v=djq-9yUBMFA&feature=share

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

KIDS e o mistério da adolescência

Kids é um filme americano dirigido por Larry Clark (1995) que conta em seu elenco com a presença de atores como Leo Fitzpatric, Chloë Sevigny, Rosario Dawson e Jon Abrahans. O produtor é o renomado diretor de Elefante, Gus van Sant. À época em que foi lançado, Kids foi proibido em vários países de maneira que o acesso ao filme era difícil. Lembro que entrei em contato com o filme pela primeira vez quando morava em Salvador. Recordo ainda de tê-lo visto nas mãos de um amigo, mas não cheguei a assistir. Passaram-se os anos, águas despencaram e a vida trouxe-me de volta à provinciana cidade de Garanhuns onde ainda hoje moram meus pais. Foi lá que assisti Kids. A essa altura o filme havia sido liberado e era fácil encontrá-lo em locadoras como a Sétima Arte do amigo Sérgio que era bastante diversificada. Lembro que levei o filme para casa sem o receio que rondava os adolescentes e jovens de 4 ou 5 anos atrás. As sensações que me inundavam naquele momento de encaixar a fita no VHS já não eram mais de medo ou incerteza sobre a malícia ou sordidez do ato. O frio que fazia vibrar a espinha era de curiosidade. Havia medo, sim; medo de que a fita enrolasse, estivesse mofada e não fosse possível assistir ao filme na íntegra.
Kids é um retrato cinematográfico da adolescência que coincide com a descoberta da vida sexual, o desabrochar dos sentimentos, a pulsão, o latejar dos hormônios, o desejo, a vida sem grana, drogas, violência, preconceitos e inconsequências que formatam a consciência e moldam as perspectivas e rotas que se impõem porque algumas coisas são simplesmente impossíveis de mudar. Ao retratar esse cenário conturbado da adolescência nova-iorquina, Clark oferece ao espectador o desenho de uma sociedade que passa por mudanças de valores e morais que ganham corpo nas escolhas de jovens sem perspectiva de futuro. Sobra-lhes, assim, o presente. É isso que vivenciam a cada momento: o presente. Não importam as experiências passadas e isso fica claro quando no início do filme o adolescente Telle convence uma garota de 13 anos, virgem, a transar com ele mediante uma jura de amor eterno que dura apenas o tempo da relação sexual. Numa outra investida de Telle, o discurso se repete e assim o personagem vai sugando o sangue de suas vítimas sem escrúpulo que o faça proteger-se e proteger suas parceiras daquilo que Cazuza mais tarde vai protestar numa canção ao dizer que o seu prazer agora é risco de vida, ou seja, a Aids. Dado o realismo do filme, o espectador chega a se questionar sobre a localização da linha limítrofe entre realidade e ficção. Mas sem perder de vista a recriação da realidade que o diretor faz da vida cotidiana desses jovens a partir de um processo de verossimilhança, o espectador respira, para e pensa sobre o olhar particular do diretor que dá uma versão (a sua versão íntima, introspectiva) desse cenário que compreende o final do séx. XX e início do séc. XXI. Diga-se de passagem, um cenário atravessado de incertezas por todos os lados que afeta, sobretudo, aqueles que são mais vulneráveis às pressões sociais, políticas, históricas e econômicas, qual seja, os jovens. Assim fazendo, Clark, embora faça uma leitura da juventude transviada de Nova York, seu filme acaba traduzindo o estado da Juventude com J maiúsculo porque ganha dimensões mundiais e descreve o jovem em transição num mundo em mudança. É isso.

http://www.youtube.com/watch?v=V0kdx9RZ3KM