Uma definição

"O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho." (Orson Welles)

sábado, 14 de dezembro de 2013

Mamãe Faz Cem Anos

Mamãe faz cem anos é uma comédia dirigida pelo diretor espanhol, Carlos Saura. Do diretor espanhol, já havia assistido Táxi que é um filme cuja história trata de um grupo de taxistas que se impõe o dever de limpar a cidade de Madri de homossexuais, negros, travestis e usuários de droga. É um excelente filme que traz a densidade e a tragicidade inerentes aos eventos de violência que pontilham o roteiro.
Em Mamãe faz cem anos, Carlos Saura dirige uma comédia de altíssima qualidade e que não lança mão do bestial para expressar humor. O roteiro pendula entre a comédia e o suspense. A matrona está para fazer cem anos, de maneira que a família resolve fazer uma festa para comemorar data tão importante. Não obstante a idade avançada, a matrona administra a fazenda e a casa onde vivem com mão de ferro. Essa lucidez e intransigência da matriarca faz com que parte da família decida matá-la para se apropriar da herança. Com a chegada de Ana e seu marido, alguns fantasmas veem à tona e, aos poucos, o lado obscuro dos personagens começa a emergir. Intrigas, traições, sedução, desconfianças, medos e ambições transitam entre os personagens e constroem o ambiente onde esses personagens vão se mover.
Esse filme, influenciado pelo mestre Luis Buñuel, fecha o círculo de filmes políticos dirigidos por Carlos Saura.

domingo, 8 de dezembro de 2013

A Princesa de Nebraska




O filme abre focando (close-up) em pernas de mulher que, agitadas, caminham de um lado para o outro. Essas pernas são de Sasha que aguarda uma amiga no aeroporto de São Francisco (E.U.A). Após uma conversa rápida com a amiga, Sasha encontra Boshen. Ele é um cara de meia idade que troca palavras com a chinesa em mandarim e inglês. Nas primeiras cenas, perguntas saltam na nossa cabeça. Quem é Sasha? De onde veio? Para onde vai? Qual a sua relação com Boshen? À medida que os acontecimentos se desenvolvem, o diretor, Wayne Wang, vai descortinando a vida dessas personagens e as pontas, então, podem ser agora amarradas.
Sasha saiu de Pequim e foi estudar em Nebraska. Ali envolve-se com Yang, um cantor de ópera. Após assistirem uma sessão de Uma Linda Mulher, decidem transar. Sasha engravida. Envolvido num escândalo de grande repercussão porque mantinha um relacionamento com um americano, Yang é expulso da ópera. Concluído o primeiro ano de faculdade, Sasha decide ir a São Francisco a fim de abortar a criança.
Boshen tenta convencê-la a dar a luz e promete responsabilizar-se pela criança. Mas Sasha é só confusão, tédio, azedume, amargura.
Certa noite, perambula pela cidade e, após um tempo andando sem destino, senta, encosta a cabeça nas pernas e chora. Nesse momento, uma prostituta senta ao seu lado e resolve ajudá-la. Tornam-se amigas. Essa amizade influenciará fortemente a maneira como Sasha perceberá a vida e suas decisões.
Além de iniciar a chinesa na prostituição que, diga-se de passagem, não vinga, ela consegue um comprador para a criança de Sasha que está decidida a vendê-lo. A sua primeira experiência como prostituta é frustrante porque o cliente percebe que ela está grávida quando começam a transar e ela imediatamente recua.
Elas fumam. Elas bebem. Elas planejam. Elas se apaixonam. Num quarto de hotel, beijam-se e Sasha convida a prostituta para morar com ela em Nebraska. Nesse momento, instala-se o drama. Não é possível, pois a prostituta está endividada com o cafetão e não pode deixar a cidade.
A câmera treme em praticamente todas as cenas dando a impressão de nervosismo que envolve aqueles personagens. O fechamento da tela em preto quando da passagem de uma cena à outra também reforça essa ideia de tensão e nebulosidade.
Agora Sasha está diante da médica para conversar sobre o aborto. Ela passa todo o procedimento e pede que Sasha volte a pensar antes de retirar a criança. Boshen espera lá fora. Sasha sai do consultório com ar pesado, lança uma olhar raivoso sobre Boshen e segue sozinha.
Emoldurada por uma tela preta que a destaca porque veste apenas uma camisa branca de mangas compridas, Sasha parece revisitar os fatos da sua vida enquanto um linda canção a embala. A sua obsessão em filmar com o celular a vida dos outros e a própria e o diário, talvez tenham permitido a Sasha esclarecer para si mesma as dúvidas que a sufocam. Esse momento de leveza e solidão sem celular, Boshen, a prostituta, Yang, os pequenos furtos, abre para Sasha a possibilidade de reescrever sua própria trajetória. Não há fim.